
Apesar de Portugal ser um país em que a maioria da população é indiferente às touradas, as arenas continuam a encher e este espectáculo deplorável continua.
Esta forma de tortura e de completo desrespeito pelos animais é ainda vista como uma expressão cultural e como tradição, por uma minoria de indivíduos que lucram à conta da tourada ou que por ela nutrem um sentimento de fascínio sádico.
A indiferença com que o público encara as touradas acontece porque existe ignorância sobre a verdadeira natureza dos actos das pessoas que promovem essa barbárie como cultura. A realidade é bem diferente e perturbadora.
A ideia de virilidade e coragem dos toureiros e forcados, enraizada nas culturas latinas, na qual Portugal se inclui infelizmente, é totalmente falsa. Eis porquê:
Os touros enquanto jovens são constantemente objecto de treino dos toureiros e forcados sendo abusados inúmeras vezes para alimentar o espectáculo que os fará sofrer ainda mais no futuro. Os touros negros são escolhidos para as touradas pois o sangue é menos evidente na pelagem negra.
Quando adultos e à chegada à praça de touros, os animais são normalmente conduzidos à base de pauladas e espicaçados com objectos aguçados.
Os touros são enclausurados durante cerca de 48 horas num lugar completamente escuro, sem comida e sem água para os enfraquecer e para que fiquem desorientados e cegos por alguns minutos quando lhes é dado acesso à arena.
Algum tempo antes de serem soltos na arena, são sujeitos a maus-tratos variados. São espicaçados, agredidos com sacos de areia na cabeça, espetados com facas no dorso, injectados com drogas e as pontas dos chifres são cortadas a sangue-frio (muitas vezes dai resultando hemorragias graves) diminuindo ainda mais a capacidade que teriam de se defender.
Quando finalmente a sua hora chega; cego, aterrorizado, desorientado, drogado, ferido e fraco, é sujeito à tortura do cavaleiro que cobardemente, em cima de um cavalo que sofre as investidas desesperadas do touro, lhe espeta as bandarilhas, verdadeiros arpões que rasgam a carne do touro e o fazem perder litros de sangue e provocando-lhe febre debilitando-o ainda mais.
Como se esta tortura não fosse já mais do que evitável, chega a vez do toureio a pé. O bandarilheiro faz a sua dança cobarde enfrentando um touro visivelmente debilitado e cansado espetando-lhe mais ferros no dorso e agravando o estado do animal. No fim de mais esta cena deplorável em que a integridade física e a dignidade já foram retiradas a este animal, o touro terá cerca de 8 ferros espetados no dorso fazendo-o sangrar severamente.
A tortura não acabou ainda. O público sádico e bárbaro quer mais. Entram então em cena os forcados, tidos como os mais corajosos e viris de todos os intervenientes nesta prática medieval. Um grupo de 10 indivíduos brutaliza o touro gravemente debilitado, fraco e aterrorizado com pontapés, murros e com puxões constantes à cauda já para não falar das bandarilhas cravadas no dorso que continuam em movimento causando cada vez mais dor ao animal.
Por fim, os touros (normalmente 6) são recolhidos e amarrados e os preciosos ferros são arrancados a sangue frio do seu dorso com a ajuda de facas. Depois de horas de tortura excruciante, os animais são encaminhados para o matadouro onde agonizam normalmente, da noite de Sábado até à manhã da segunda-feira seguinte quando são abatidos muitas vezes sendo sangrados completamente conscientes enquanto as suas entranhas lhe são arrancadas. Assim termina a vida de um animal inocente que teve o azar de ser vítima da completa demência de indivíduos gravemente perturbados psicologicamente.
O cavalo é também uma vítima deste jogo desumano e cruel sofrendo com as tentativas de defesa do touro mas também com as esporas do cavaleiro que lhe rasgam a carne, expondo por vezes as costelas do animal e fazendo-o perder também uma quantidade considerável de sangue. No chão da arena, o sangue dos touros e dos cavalos mistura-se com a areia. Curiosamente, o homem que se diz corajoso neste espectáculo, escapa sempre incólume.
Esta é a tourada comum em Portugal mas há mais abusos cometidos contra estes animais em espectáculos semelhantes: garraiadas académicas, touradas de fogo, touradas à corda, largadas e corridas, sorte de varas e touros de morte. Muitas destas práticas violam descaradamente a Lei Portuguesa mas os infractores nunca são punidos. Em vez de progresso, o governo português adopta uma atitude retrógrada permitindo touradas de morte em Barrancos e deixando impunes as constantes violações da Lei que se verificaram nesse e noutros locais por anos a fio e que, apesar das inúmeras denuncias e lutas das associações de defesa dos animais, se continuam a verificar às claras, debaixo da mão permissiva e corrupta das forças de aplicação da lei, incluindo os tribunais.
A “Festa Brava” é uma tradição de origem religiosa e que se manteve ao longo de séculos por influência da Igreja que continua a esforçar-se por manter vivo este espectáculo típico de países do terceiro mundo. A Igreja Católica, que curiosamente ensina ideias de compaixão, promove este tipo de espectáculo.
A Liga Portuguesa Contra o Cancro está envolvida nesta vergonha. A Santa Casa da Misericórdia é proprietária da maioria das praças de touros e marcas como a Portugal Telecom continuam a patrocinar estes eventos. A TVI e a RTP contribuem também vergonhosamente para a perpetuação desta atrocidade organizando ou patrocinando touradas. Como se não bastasse, as associações académicas de Coimbra e do Porto e também a Associação de Estudantes do Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa (AEISA), entre outras, incutem nos seus alunos um sentido de irresponsabilidade e insensibilidade para com os animais, promovendo garraiadas em que touros e vacas jovens são abusados por uma multidão de alunos que a seu bel-prazer torturam os animais indefesos à semelhança das pegas.
O presidente Jorge Sampaio e a sua mulher, bem como outros políticos de influência fazem questão de dar o mau exemplo e marcar presença nos eventos tauromáquicos aplaudindo vigorosamente o espectáculo deplorável a que assistem.
Do outro lado, os defensores das touradas continuam a advogar o seu direito intocável a gostar do que querem. Pela lógica de tais afirmações, teríamos que deduzir que os pedófilos e os psicopatas devem ser livres de fazer o que bem entenderem porque têm direito a gostar do que gostam.
Há quem afirme que os touros nasceram para ser toureados e que nada sentem, que a sua genética os faz ultrapassar horas de tortura sem que sofram com isso, que são animais violentos e que atacam sem razão. Pura mentira. Estas são algumas das preciosidades regularmente proferidas por pessoas seriamente debilitadas mentalmente. Exemplo dessa “filosofia” em que o que conta é iludir o público, está registada na reportagem da SIC intitulada
Vermelho e Negro de Junho de 2003.
Estas pessoas, pedem a protecção divina antes de entrar na arena como um ritual próprio de quem não tem inteligência para entender que quem precisa de protecção são os animais que a Lei lhes permite torturar.
Afirmam que os defensores dos animais são pessoas perturbadas e loucas por pedirem o fim da tortura bárbara e desnecessária mas, no entanto, não permitem às câmaras de televisão filmar cenas que eles consideram “impróprias para o público” por medo de que a realidade das suas acções seja exposta.
A tauromaquia é acima de tudo, e independentemente da sanidade mental dos que torturam e matam animais, um negócio que rende milhões a todos os intervenientes. É por essa razão que a tourada continua, porque do negócio lucrativo dos criadores até aos toureiros que chegam a lucrar 50.000€ por tourada, passando pelas instituições de solidariedade, Igreja, empresas, televisão e rádio, há sempre dinheiro para influenciar o poder politico e as autoridades. Este meio é constituído por pessoas abastadas que com o seu dinheiro gozam de influência e impunidade. Estes “intocáveis” são as pessoas que mais contribuem para o declínio da nossa nação e, pior, para a má-educação do público que é levado constantemente a acreditar que estes indivíduos são heróis quando nada mais são do que cobardes e corruptos que deviam ocupar o seu lugar atrás das grades.
Informe-se:Movimento Anti-Touradas de PortugalCampanha Touradas da LPDASecção Tauromaquia Associação ANIMAL